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Músico Seu Jorge comete grave erro em afirmar que o Rock é racista


Desde sua conturbada saída da excelente banda "Farofa Carioca", grupo de Black e Soul Music formado entre as cidades de São Gonçalo e Belford Roxo, região metropolitana do Rio de Janeiro, o músico Seu Jorge vem sendo ambíguo em suas posições políticas. Nesses momentos, o conhecimento da história das coisas é muito importante. Por isso, devemos dar um desconto ao músico, isso deve passar, suas terríveis declarações a respeito do racismo no Rock, aproveitando-se de uma horrível e descabida atitude do ex-integrante da conhecida banda "Pantera" Phil Anselmo, em que fez uma saudação nazista skinhead, após a realização de um show neste final de semana em Ohio. Já é caso conhecido que bandas como o "Pantera" e "Metallica", que chegaram em até alguns momentos a se apresentarem com a bandeira dos confederados da Guerra Civil americana, que defendiam a escravidão no sul dos EUA. Inclusive alguns produtores chegam a especular que a saída de Dave Mustaine, no início, hoje vocalista e guitarrista do "Megadeth", já tinha ocorrido divergências políticas com os integrantes atuais do "Metallica" por causa das posições mais conservadoras do grupo.

Antes de tudo, é fundamental destacar que o racismo é uma das bases do sistema capitalista, a opressão aos povos e nações, a diáspora negra retirados a força de sua terra natal, reinos, nações e tribos foram destruídas pelos exploradores, o tráfico negreiro geraram muitas riquezas, a mãe África foi dilacera pela ganancia, e que toda a exploração ou racismo deve ser combatido com todas as forças, o problema é que como está se organizando a sociedade contemporânea, o horizonte não é tão promissor, a intolerância se tornou ainda maior nesse século XXI, mas mesmo assim, o racismo não deve ser aceito de forma alguma, seja ele de gênero, raça ou cor.


Seu Jorge, desde que seu estilo de samba virou para uma elite intelectual e seu estrondoso sucesso com a música "Burguesinha, só no filé", ele não parou mais, centenas de shows, cinema e muitas entrevistas, um pop star, fez estágios em Paris e sofreu racismo na Itália, mas a algum tempo, Seu Jorge vem se afastando de suas posições mais conscientes e progressistas, buscando um local de conforto para os grandes astros da música popular brasileira (MPB) talvez, mas nem por isso, o talentoso artista deveria se aproveitar disso, é possível que ele tenha se esquecido que atualmente o gênero escolhido pela classe média e alta carioca e paulistana, é o samba, é possível que Seu Jorge não ache problemas nisso, nós sem dúvidas também não.

Nascido no Recôncavo Baiano, o samba, foi trazido por negros que vieram para o Rio de Janeiro, no início do século XX, por volta dos anos 1920, se desenvolveu nas rodas organizadas por dona Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, a efervescência cultural naquela região era grande, reuniam-se músicos como Pixinguinha, João da Baiana e Donga, considerado o primeiro autor gravado de samba com "Pelo Telefone". A Casa de Tia Ciata, na Praça Onze no Centro da Cidade, área que também ficou conhecida como Pequena África, era um importante lugar de encontro de escritores e músicos, hoje demolidas.

O samba foi redescoberto pela academia das universidades na década de 90, levado para a Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro no final dos anos 70 pelo artista plástico Hélio Oiticica, após vivência no barracão e na quadra da Escola de Samba Mangueira, o gênero atualmente vem crescendo bastante nas camadas entre os brancos, tanto que hoje é bastante comum ver rodas e blocos de carnaval formado majoritariamente de brancos, sem contar na Sapucaí, com exceções de Beija-Flor, Independente de Padre Miguel, Estácio de Sá, Paraíso do Tuiuti e Acadêmicos do Cubango, e blocos como os Embaixadores da Folia e Escravos da Mauá, no Rio de Janeiro, a grande maioria das Escolas de Samba e suas respectivas alas são formadas por brancos, se quiser, para conferir melhor, é só dá um passeio nos camarotes.

Por  isso, Seu Jorge ao afirmar em entrevista amplamente divulgada pela internet, em que acusa o rock de ser racista, e que o gênero não é para negros, é uma infeliz declaração e um grave equívoco, e que distorce a história e as raízes desse gênero musical e seus fundadores. Porém se torna uma obrigação em esclarecer alguns fatos reais na história da música mundial, e ao mesmo tempo muito importante na sua correta informação,  a verdade é que o rock foi criado entre os anos de 1940 e 1950 nos campos de plantação de cana-de-açúcar e algodão dos EUA. O Rock and Roll (Pedras que Rolam), é filho do Blues e do Rockabilly (R&B), gêneros originados nas casas e igrejas dos negros afro-americanos, muitos deles ainda filhos e netos dos ex-escravos das fazendas durante o período da escravidão nos Estados Unidos dos séculos XVIII e XIX.

Considerado pai do rock, o guitarrista negro Chuck Berry, que a partir da sua genialidade e talento, portando belas guitarras, fez surgir um dos gêneros mais discutidos, amados e odiados de todos os séculos e que junto a Robert Jonhson, Nina Simone, Tina Turner, Shirley Varret, Buddy Guy, B.B. King, Bo Diddley, Jimmy Hendrix, Little Richard, Ray Charles, Black Merda, Lenny Kravtz, Living Color e muitos outros artistas negros da música, fizeram e fazem o mundo tremer com suas vozes, performances e muita originalidade, que até hoje nos encantam a sua beleza.



Nina Simone


Portanto, devemos dar um alô ao músico Seu Jorge, e lembra-lo que desconhecer as raízes do gênero rock não é tão grave assim, pois provavelmente ele deve estar um pouco preocupado também com a calçada da fama e as montanhas da belíssima cidade de Los Angeles nos Estados Unidos, na qual, já dois anos o músico escolheu esse lugar para viver e morar. Perguntado sobre o porque da sua escolha de sair do Brasil, e ir morar no exterior em LA na Califórnia, ele respondeu que buscava mais tranquilidade e que lá ele poderia ter uma vida melhor e estar mais seguro. Está bom, quem sabe Seu Jorge esteja pensando como naquela época no país quando artistas brasileiros renomados organizaram nas décadas de 60 e 70, as famosas passeatas contra a introdução das guitarras elétricas na Música Popular Brasileira (MPB), alegando ser uma cultura importada, atualmente acho que tudo é possível por apenas um show.





                     Lenny Kravtz

   Banda Black Merda

               

Chuck Berry


 Jimmy Hendrix



Tina Turner







Música "Revolution", cantada em show no bairro do Harlem, em NY por Nina Simone


Comentários

  1. Olá amigo. Acho o Seu Jorge um excelente cantor. Mas não sou um fã dele. Disse isso para que ache que eu estou defendendo ele. Mas acho sim que o rock é racista. Não apenas racista, mas se tornou o maior movimento racista do mundo. Sem dúvida o rock começou sendo uma música negra. Porém, quantos artistas negros temos no rock atual? Há quanto tempo não temos um nome de peso que seja negro no rock mundial? Porque o ritmo de Michael Jackson não foi considerado rock e sim pop? Fora isso, os roqueiros já há algum tempo despresam todo tipo de música negra que não sejam classificadas como rock. A exceção é o reague. Aqui no Brasil, desmereceram o Samba, o Funk (que particularmente não gosto mas não desprezo), a música sertaneja etc. Mais um detalhe. O rock já não é o mesmo ritmo que foi inventado pelos negros. O blues-rock inventado por Check Berry já não é tocado. Para mim, o rock se tornou musicalmente o oposto ao blues-rock criado pelos negros.

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