O Teatro Oficina localizado no bairro do Bixiga em São Paulo e seu celebrado criador, José Celso Martinez Corrêa devem estar se lembrando dos tempos em que no Brasil eram censuradas diversas peças teatrais devido a presença de atores semi nus em cena. Nesse período entre os anos 60 e 70 do século XX, parecem estar voltando. Artistas como Chico Buarque, Zé Celso, Caetano Veloso, Tom Zé estão sendo perseguidos e ameaçados, inclusive abordagens físicas violentas como a sofrida por Chico Buarque em uma rua no bairro do Leblon.
Desde o acontecimento da Exposição "Queermuseu" em Porto Alegre cujo o tema abordava sobre problemas da pedofilia e situações sobre zoofilia também. Diversos debates e discussões ocuparam as redes sociais e artistas sobre a censura a arte contemporânea e o contexto das performances corporais, muitas delas realizadas por atores de caráter experimental que coloca o próprio corpo como instrumento em evidência de sua criação. Isso não é nenhuma novidade no mundo da arte, desde os anos 70, Yoko Ono e Andy Worhol já faziam performances em museus e galerias de Nova Iorque utilizando corpo como forma de expressão e ação artística.
Edição clássica encarte e capa da publicação Revista Rolling Stone

O que mais preocupa no Brasil é o desconhecimento sobre arte é enorme, e está totalmente fora da realidade cotidiana da população, e que os setores mais conservadores apresentam um comportamento que evidencia isso, mostrando que o desconhecimento é maior ainda, e que na maioria deles declaram que sequer frequentam uma exposição ou vai ao teatro por exemplo, muitos não gostam de experiências artísticas de vanguarda. Organizações fundamentalistas conservadoras sempre atuaram de forma violenta, um caso emblemático é a foto em que aparecem no anos de 1968 o músico John Lennon nu abraçando a artista plástica Yoko, foto essa que se tornou clássica leiloadas recentemente por milhões de dólares, foi capa da Revista Rolling Stones, na época diversas ameaças foram feitas ao casal.
Setores e grupos fundamentalistas como o MBL se aproveitam e representam atualmente a expressão mais reacionária brasileira utilizam de táticas violentas de perseguição e patrulhamento ideológico utilizando caminhos dessa "nova cultura" da direita representada e defendida por posições de Olavo de Carvalho. Seitas olavianas de direita surgem na internet, muitas vezes com perfis falsos (fake news), criam noticias mentirosas propagando um ambiente de medo, terror e pânico. Quando "Toda nudez será castigada" livro adaptado para peça teatral escrita por Nélson Rodrigues no ano de 1965, apresentada no Teatro Serrador do Rio de Janeiro, com a direção do polonês Ziembinsk, se tornou um verdadeiro escândalo nacional. A peça mostrava uma sociedade brasileira que vive das aparências, conservadora, moralista e com elevada hipocrisia patriarcal. O escritor Nélson Rodrigues ele mesmo, que em diversas vezes expressou posições conservadoras, sofreu na própria pele e sentiu o sabor do veneno reacionário.
No Rio de Janeiro o site do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro MAM/RJ foi atacado com mensagens homofóbicas e de ódio aos artistas, muitas delas chegaram a ameaçar o museu fisicamente. Tudo isso devido a performance de um ator realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM/SP. O Prefeito do Rio de Janeiro pôs mais gasolina na discussão ao declarar na imprensa que a "Exposição - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira " de Porto Alegre, não é bem vinda na cidade, chegando a afirmar que ela só aconteceria se fosse no fundo do mar, alusão ao MAR Museu de Arte do Rio de Janeiro, dizendo que não vai liberar o espaço do equipamento cultural para a mostra que tem entre as artistas censuradas as conceituadas Ligia Clark e Adriana Varejão, que tiveram seus trabalhos recolhidos, a posição do prefeito contrariou o diretor do MAR Carlos Gradim, que declarou sua vontade de trazer a mostra para a cidade.
O mais perturbador é que esse fenômeno atual de censuras as expressões artísticas de contestação vem crescendo em escala mundial, e artistas como Ozzy Osborne, Roger Waters, Marylin Manson, Alice Cooper, Sting e Yoko Ono são perseguidos de diversas formas, e bandas como U2, Green Day e Pearl Jam já sofreram algum tipo de retaliação dos setores conservadores.
Foto: Exposição Bienal de Artes de São Paulo
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