O caminho sobre as ruas do Rio, sempre despertaram meu interesse – pois me ajudam a re-construir permanentemente o meu Rio de Janeiro. Minha Autoviação que contem nomes como Radial Oeste, Piumbí e Piancó, Taylor e Moraes e Vale, Rezende e Gomes Freire. Ruas que comecei a trilhar (sim, andar é a melhor maneira de pensar) quando o autor do Guia Afetivo da Periferia tinha um ano de idade.
Segundo o escritor as narrativas que conheço são aquilo que se diz das viagens com guias turísticos: um jogo de cartas marcadas. Mesmo um Antonio Fraga, no seu Desabrigo, de 1945, elogiado por Oswald de Andrade, me parece uma apropriacão da linguagem das ruas para a sua literatura mas sem a fluencia da lingua de quem fala (quem viveu nas ruas percebe uma gíria usada fora do exato sentido ou contexto).
O Guia Afetivo da Periferia, de Marcus Vinicius Faustini, no entanto, mais que mostrar um Rio “periférico” mas uma cidade pelo seu interior no centro: os sentidos do próprio autor e por essa janela aquilo que, pelo se chama a “visão de mundo”.
Por sua sua visão ser extremamente pessoal, vemos um Rio de Janeiro (e posso dizer um Brasil) moderno, que foi sendo construído da década de 1980 para cá. Um Rio sem políticas públicas mas com sons, cheiros, ruídos, visões, sobrevivências, desfoques, encontros, tramas, conexões, enfim construcões de toda sorte à margem dos poucos programas públicos mas contendo aquilo que Jane Jacobs considera essencial para a vida de qualquer cidade: a diversidade das pessoas com suas vontades.
Além de muito saborosa a narrativa e o modo como escreve, nos permite, ao olhar para o que fi(a)zemos, pensar sobre o que somos, nos ajudar a construir o que queremos outras referências. Algumas das bússolas deste século 21, vislumbradas neste Guia, já aparecem apontar alguns dos caminhos: A noção e a presença do Território como foco prioritário das ações urgentes para o desenvolvimento sustentável – parece ser um deles.
Marcus Faustini nos entrega, como presente, uma caixa natalina contendo um kit com um jogo de lentes que aproximam/distanciam (cinema, talvez?), além de cartas para embaralhar num moderno Jogo da Memória onde o objetivo é juntar pares por oposição e não semelhança, acompanhado de uma Fita com uma Trilha Sonora de Sons e Sentidos. Além de tudo um livro super legal para conhecer um pouco mais do rio de janeiro.
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eduardo almeida
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