Pular para o conteúdo principal

Contos Urbanos 2

Os caminhos que levam à Leopoldina



Adoro as promoções da Praça das Nações, as lojas vivem em liquidação principalmente para aqueles que procuram tênis ou sapatos, as lojas ELITE e SAPASSO, já são bem antigas nesse ramo e no bairro, geralmente com preços muito bons. Bonsucesso eu adoro esse lugar, é o caminho mais curto para nós que moramos em torno da região da Leopoldina, linha auxiliar de trens urbanos que leva também para a Baixada Fluminense, Duque de Caxias, Belford Roxo e Queimados.

Mas é de Kombi que o caminho se torna mais interessante e rápido. É na Cancela, em São Cristóvão, o ponto em que escutamos a buzina anunciar:

“Bonsucesso, Praça das Nações, Leopoldo Bulhões, Manguinhos, Mandela, Parque União, Bob´s e Caracol”.

Um grupo enorme de pessoas, senhoras e jovens se dirigem aquele automóvel que em boa parte nos deixa a pergunta de como vai chegar. Mas como estou com pressa, entro sem olhar, deixando um relax acontecer, pois é melhor ir um pouco mais apertado e chegar mais rápido do que esperar o 350 (Passeio-Irajá) além de demorar mais, sempre vem lotado.

Separo os R$ 2,00 para facilitar a vida do cobrador e a minha, quando percebo que a Kombi está com sua lotação máxima, o cobrador puxa um banquinho de plástico e senta no corredor começa a conversar com outro passageiro. Eles conversavam sobre o sistema de porta automática que quase todas elas já possuem, eles falavam do perigo que é ficar com a cabeça para fora com aporta aberta.

“Outro dia quase perdi a cabeça, tomei um pancadão da porta que fiquei zoadão o dia inteiro”, disse um para o outro.

O fundo do silêncio era quebrado pelo pagode do Belo motorista conhecia bastante a letra, do meu lado um casal de evangélicos seguravam bem firmes suas bíblias me perguntaram onde ficava o supermercado prezunic, respondi que era logo depois de passar o ponto do Arará em Benfica, ao entrar na Leopoldo Bulhões, começaram a conversar sobre o culto e o pastor que tinham acabado de conhecer, me deixaram um convite da igreja e desceram.

O dia estava bem cinza, pela janela comecei a ver a comunidade de Mandela e as casinhas das obras que ali acontecem o conjunto novo que construíram em Manguinhos, ao fundo o prédio da Fiocruz se destacava na paisagem, como o novo Teleférico com suas cápsulas penduradas sobre cabos de aço feito pão de açúcar para levar os moradores para o Complexo do Alemão, tapumes de obras se misturavam a paisagem, com pixações aos mortos em “combate” nessa guerra particular, parafraseando João Moreira Salles no filme.

Um casal de namorados desce em frente à estação de trem e um senhor do nordeste me pergunta sobre as horas, vejo que são vinte para as quatro da tarde e que meu ponto está chegando, peço então para me deixarem em frente ao Bonsucesso Esporte Clube, a Kombi para, pago ao cobrador e me despeço com um obrigado e sigo em direção ao Ponto Frio.


Eduardo Almeida
Apalpiano do território de são cristóvão

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sport Club Corinthians Paulista e o grafite

Camisa do clube de futebol da capital de São Paulo adota em 2017 numeração e design com o tema inspirado na arte do grafite.

Slavoj Zizek - Não Aja, Pense!

Ensaios técnicos - 17/02/19